quarta-feira, 16 de setembro de 2009

TERMINOLOGIA

Na descrição de contextos de contato que elucidam a presença de arabismos na língua portuguesa, a literatura especializada recorre ao vocabulário da Filologia Árabo-Românica e da Sociolingüística do contato intercomunitário, aqui sistematizado:

Al-Ândalus: Entidade política arábico-islâmica na Península Ibérica medieval (711 a 1492), equivocadamente designada Espanha Muçulmana. Aponta-se como preferível a forma Alandalus, pronúncia nativa e local do referido topônimo.
Andalusino: Natural ou habitante de Al-Ândalus; referente a Al-Ândalus.
Andaluz: Natural ou habitante da atual Andaluzia (Espanha); referente à Andaluzia.
Bilingüismo: Fenômeno individual caracterizado pelo uso alternado de línguas distintas por um mesmo falante.
Contato de línguas: situação em que línguas distintas se influenciam, devido à contigüidade geográfica, proximidade social, conquistas e migrações ou mesmo em decorrência de viagens ou de exposição a meios de comunicação de massa.
Diglossia: Fenômeno social caracterizado pelo uso de duas línguas, em funções socialmente estabelecidas como adequadas para cada uma delas, designando-se A a variedade de prestígio e B a variedade de menor prestígio.
Espanha Muçulmana: Al-ândalus. A designação Espanha Muçulmana é equivocada, dado reunir conceitos excludentes: a Espanha é cristã, Al-Ândalus, muçulmano.
Hispano-árabe: Andalusino, forma preferível, por se considerar a designação hispano-árabe uma “etiqueta distorcedora”.
Interferência: fenômeno verificado em falantes bilíngües e caracterizado pela reorganização de padrões de um sistema lingüístico devido à introdução, neste, de elementos de outro sistema.
Malê: Denominação genérica do negro muçulmano no Brasil. Etnônimo atribuído por outras etnias a africanos islamizados e, por isso, tem seu uso criticado.
Moçárabe: Cristãos arabizados que permaneceram sob jugo muçulmano em Al-Ândalus.
Mudéjar: Muçulmanos que permaneceram na Península Ibérica após a Reconquista cristã.
Muladi: Muçulmano de origem étnica hispânica, convertido depois da conquista islâmica de Al-Ândalus, ou descendente de um autóctone convertido.
Romance andalusino: Romandalusino ou romance meridional, equivocadamente dito moçárabe, por não ser de uso restrito da comunidade moçárabe.
Romance hispânico: Designação do conjunto de falares resultantes da natural evolução da língua latina na Hispania, antiga província romana.
Romance meridional: Romance andalusino ou romance meridional
Romandalusino: Romance andalusino ou meridional, designação preferível à moçárabe.
Romania Arabica: Espaço lingüístico-cultural em que a língua árabe trava contato com romances e línguas novilatinas. Engloba diferentes territórios e se estende por várias épocas. termo cunhado por hispano-arabistas centro-europeus, dentre os quais A. Steiger.

Referências
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Apresentação

Este blog foi criado para compartilhar informações acerca das conseqüências do contato entre as línguas árabe e portuguesa verificado em 03 contextos específicos: a Península Ibérica medieval, o Brasil escravagista e o Brasil da imigração.
A este tema se dedica a autora deste 1992, quando se apaixonou pelo assunto ao preparar o trabalho de conclusão da disciplina Filologia Românica II (sobre o domínio lingüístico ibérico) na graduação em Letras na Universidade Federal da Bahia.
O referido trabalho, sobre o vocábulo azulejo, descortinou um mundo aparentemente perdido, europeu e medieval, mas que, em verdade, continua vivo no Português Brasileiro, nos arabismos transplantados com o Português Europeu, aos quais se juntaram outros, adquiridos já na Terra Brasilis, por meio de escravos islamizados e de imigrantes arabófonos que ainda hoje chegam ao nosso país.
Os arabismos do Português Brasileiro requerem investigação pautada na etnolingüística e na sociolingüística do contato intercomunitário, complementando o que a literatura especializada já documenta, mas que se restringe aos arabismos ibéricos, mencionando, quando muito, o influxo lexical da migração sírio-libanesa no Brasil.