domingo, 4 de novembro de 2012

EMPRÉSTIMOS E ESTRANGEIRISMOS DE ORIGEM ÁRABE NA LITERATURA FICCIONAL EM LÍNGUA PORTUGUESA INTRODUÇÃO Este estudo tem por objeto arabismos empregados na literatura ficcional contemporânea, com o intuito de analisar a ocorrência de formas integradas (empréstimos) e menos integradas, em geral adquiridas mais recentemente (estrangeirismos). A ausência de investigações sistemáticas sobre o contato português-árabe na contemporaneidade e suas conseqüências no português brasileiro, assim como a descrição, pela literatura especializada, quase restrita à de arabismos integrados ao sistema lexical português na Idade Média ibérica justificam esta pesquisa. Buscaram-se os arabismos nas obras Al-Gharb – 1146: viagem onírica ao “Portugal” muçulmano (XAVIER, 2004) e Vida Dupla: um romance sobre o Oriente Médio hoje (ALSANEA, 2007). A teoria empregada na análise dos dados procede da Lingüística Antropológica, que correlaciona linguagem e cultura, conforme preconizada por Sapir (1980 [1921]) e por Bloomfield (2005 [1933]). A hipótese testada é de que empréstimos e estrangeirismos, em cada texto que constitui o corpus, refletem necessidades designativas distintas, de momentos sócio-histórica e culturalmente bastante diferenciados de contato árabo-românico: na obra Al-Gharb, os empréstimos de origem árabe têm maior representatividade numérica, bem como presença em maior número de campos semânticos, ao passo que os estrangeirismos designam exclusivamente particularidades políticas, culturais e religiosas do mundo árabe-muçulmano. Por sua vez, em Vida Dupla há menos empréstimos do que estrangeirismos, aqueles se restringindo a vocábulos de uso mais freqüente na língua portuguesa, e a estes últimos cabendo a expressão de peculiaridades culturais e religiosas médio-orientais. Concluiu-se pela corroboração da hipótese investigada. METODOLOGIA A escolha das obras que constituiriam o corpus se deu a partir dos seguintes critérios: a) serem de publicação recente; b) referirem-se ao mundo árabe-muçulmano e c) contemplarem contextos distintos de contato árabo-românico. Assim, selecionaram-se as obras Al-Gharb – 1146: viagem onírica ao “Portugal” muçulmano e Vida Dupla: um romance sobre o Oriente Médio hoje para constituir o corpus de pesquisa. Em se tratando este trabalho de uma amostra de empréstimos e estrangeirismos de origem árabe em textos produzidos em língua portuguesa, e constituindo uma reflexão inicial sobre a presença de estrangeirismos dessa língua-fonte no português brasileiro contemporâneo, limitou-se a extensão do corpus a cerca de 10 páginas de cada obra, assim especificadas. De Al-Gharb – 1146 se extraíram os capítulos “Meu pai projeta castelos” (p. 17-18), “O Gharb, polígono de paz e terra de tolerância” (p. 91-94) e “Paisagens, cores e perfumes do Mira” (p. 101-105), perfazendo um total de 11 páginas. Em Vida Dupla se recolheram os capítulos “As garotas gravitam em torno do grande dia de Gamrah, cada uma a seu modo” (p. 24-29), “Hamdan, o rapaz lindinho de cachimbo” (p. 203-205) e “Lamees se casa com o primeiro e único amor da sua vida” (p. 211-216), excluindo-se o e-mail da narradora com que soem ter início os capítulos, e totalizando, assim, 12 páginas. Os arabismos são apresentados, em ordem alfabética, em duas partes, concernentes a cada um dos textos em que foram buscados. As listas trazem o lema, categorias gramaticais das formas menos evidentes ou integrantes de mais de uma categoria, acepção documentada nos textos, para os vocábulos não pertencentes à língua comum, bem como variantes registradas no corpus e abonação com indicação da(s) página(s) em que ocorrem. A entrada nas listagens se dá na forma masculina singular. Quando não ocorrem no corpus nestas formas básicas, a mesma é registrada como entrada entre colchetes, indicando interferência do pesquisador. Quando, além da forma básica, ocorrem flexionadas, estas são indicadas como sub-entradas daquelas. Também se registram variantes de um vocábulo. Para os estrangeirismos, registra-se o gênero atribuído pelo autor ou pela tradutora, conforme a obra em que se acham documentados. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS Registram-se, nos fragmentos selecionados de Al-Gharb (XAVIER, 2004), os seguintes vocábulos árabes ou que têm na língua árabe a sua origem: Açude – “(...) as marés do rio, retidas numa represa, ou açude, e depois dela libertadas através de comportas (...).” p. 104. Adobe – 1. Tijolo feito com argila secada ao sol. 2. Pedra lisa e arredondada encontrada nos rios. “Deparamo-nos, outras vezes, com humildes cabanas de adobe (...).” p. 102. Al-Kibla – s.m. Uma das divisões da Espanha, consoante a geografia árabe; região sul, do meio-dia. “Os reinos dos cristãos, por seu turno, situam-se num outro triângulo quase justaposto ao primeiro – o al-Kibla, o al-Djuf, o Norte.” p. 92. Al-Djuf – s.m. Uma das divisões da Espanha, segundo a geografia árabe, correspondente à região Norte. “Os reinos dos cristãos, por seu turno, situam-se num outro triângulo quase justaposto ao primeiro – o al-Kibla, o al-Djuf, o Norte”. p. 92. Alcáçova – 1. Fortificação. 2. Palácio antigo. “Terão reparado na alcáçova (...)” p. 101; Alcáçovas – “(...) não era falta de vontade dos qaid das alcáçovas (...).” p. 17. Alcaria – Aldeia, lugarejo, vila. “Mais adiante, um pequeno povoado, uma alcaria de iemenitas (...).” p. 102. [Alecrim] – Alecrins “(...) mas não isenta de uma certa beleza bravia e intocada, com sua vegetação rasteira e xerófila de (...) alecrins (al-liklil) e rosmaninhos (...).” p. 102. [Aljama] – Conselho de judeus ou de mouros na Espanha durante a Idade Média, juderia ou mouraria. Aljamas – “(...) exaustos das intrigas dos conselhos (aljamas) (...).” p. 103. [Almogavre] – 1. Guerreiro que lutava emboscado nas matas. 2. Militar de cavalaria. Al-mugauir – “(...) os al-mugauir – guerreiros predadores que irrompiam a galope, de surpresa, pelos descampados da charneca (...).” p. 103; Almogávares – “(...) o nome tinha sua razão de ser no vocábulo almogávares (...).” p. 103. [Almorávida] – Almorávidas – s.m. “(...) seu filho Ali era agora o chefe supremo dos Almorávidas (...)” p. 17; adj “(...) não era falta de vontade dos militares almorávidas” p. 17. [Árabe] – Árabes – “(...) os magrebinos africanos, os sírios, os árabes e os egípcios, estes predominantes em Lisboa.” p. 93. Arabesco – “(...) minhocas (...) que se contorcem (...) em formas de arabesco.” p. 104; Arabescos – “Durante algum tempo acompanhamos os arabescos desenhados pelo rio ‘do Emir’ (...).” p. 102. Aval – “Será que o próprio Ali Yusuf dá aval solidário com seu tio Tamin?” p. 17. Berbere – “(...) um velho berbere (...) observa (...) o funcionamento do novo moinho hidráulico (...).” p. 104, “(...) não deixaria de impor ao pobre berbere a condição draconiana de (...) exigir para o seu bolso metade dos proventos (...).” p. 104; Berberes – “(...) a guerra fratricida (...) muito facilitou a vitória dos berberes (...).” p. 92. Carmesim – “(...) acrescenta Ordoña, ansiosa, carmesim e esfomeada pela longa cavalgada.” p. 103. Ceifa – “(...) já pronto para a ceifa.” p. 102. Corânico – “(...) meu pai havia-me aconselhado a estudar Direito Corânico, História da Arte e Matemática.” p. 18; Corânica – “Mas... e a proibição corânica dos juros?” p. 17. Dar-el-Harb – s.m. Na Teologia Islâmica, regiões não-muçulmanas, literalmente ‘território de guerra’, opondo-se ao Dar-el-Islam. “(...) o cenário bélico é constituído pelos dois triângulos orientais – o do norte (o dar-el-Harb), e o do sul, muçulmano (o dar-el-Islam) (...).” p. 92. Dar-el-Islam – s.m. Literalmente, ‘Território da Paz’, na Teologia Islâmica, correspondente às áreas onde o Islã domina, em oposição ao Dar-el-Harb. “(...) o cenário bélico é constituído pelos dois triângulos orientais – o do norte (o dar-el-Harb), e o do sul, muçulmano (o dar-el-Islam) (...).” p. 92. Dhimma – s.f. Proteção dada a não-muçulmanos governados por islamitas e aos quais se aplicam impostos especiais (jizya), restrição à liberdade religiosa e obrigatoriedade de ser leal ao estado islâmico instituído. “(...) assegurando igual proteção a todos, a chamada dhimma, em contrapartida de simbólicos tributos de capitação (jizya) e sobre o usofruto de terra (kharâj).” p. 93. Djundis – s.m. soldados árabes. “(...) foi este manto protetor que permitiu que o al-Andalus fosse considerada a Hispania de las Tres Naciones, ou de las Tres Religiones, em que coexistiam todas as gentes do Livro: (...) os djundis iemenitas (concentrados em Silves e Faro – Xanta Mariza Ibn Hârum), os magrebinos africanos (...).” p. 93. Emir – “Odemira (...) – Trata-se de um topônimo evidente, formado pelos vocábulos ‘ode’(uade, rio) e ‘mira’ (de emir, chefe, príncipe) (...) p. 101, “(...) logo, a terra do rio do Emir.” p. 101, “(...) teimava em ver no nome de Odemira, não um tributo a um emir muçulmano (...).” p. 101, “(...) arabescos desenhados pelo rio do Emir (...)”p. 102, “(...) a foz do meu rio, de que sou o emir (...).”p. 105. Gharb – s.m. ocidente. “(...) Samarra, situada no gharb do Gharb – no extremo ocidental da parte ocidental do al-Andalus (...).” p. 91. Hammam – s.m. Banho público árabe. “Continuamos no hammam, nessa atmosfera íntima, úmida e perfumada, que convida a sonhos, a reminiscências.” p. 17. [Iemenita] – Iemenitas – “(...) os djundis iemenitas (concentrados em Silves e Faro – Xanta Mariza Ibn Hârum) (...).” p. 93, “(...) uma alcaria de iemenitas (descendentes daqueles chegados há trezentos anos como escravos nos exércitos de Mussa) (...).” p. 102. Islão – “Que valores poderiam contrapor os valores do Islão (...)?” p. 94. Islâmico – “Usa-se o calendário islâmico ou o cristão?” p. 17, “(...) acha oportuno fazer a apologia do ambiente de tolerância trazido pelo mundo islâmico (...).” p. 92. [Magrebino] – s.m. Natural ou habitante do Magreb, o poente árabe, região mais ocidental do mundo árabe. Magrebinos – “(...) coexistiam todas as gentes ‘do Livro’: (...) os magrebinos africanos, os sírios, os árabes (...).” p. 93. Maqbara – s.f. 1. Túmulo. 2. Cemitério, acepção com que ocorre no corpus. “Junto à alcaria, avistamos a maqbara (...), o necrotério onde os anciãos (...) jazem em decúbito lateral direito e com a cabeça virada a sudeste, em linha reta com Meca.” p. 103. [Moçárabe] – Moçárabes – “Deparamo-nos (...) com humildes cabanas de adobe de famílias moçárabes (...).” p. 102. Muçulmano – “(...) o cenário bélico é constituído pelos dois triângulos orientais – o do norte (o dar-el-Harb), e o do sul, muçulmano (o dar-el-Islam) (...).” p. 92, “(...) negociaram em Ceuta o auxílio muçulmano (...).” p. 93, “(...) teimava em ver no nome de Odemira, não um tributo a um emir muçulmano (...).” p. 101. Qaid – s.m. Alcaide, antigo administrador de província ou palácio. “(...) não era falta de vontade (...) dos qaid das alcáçovas (...)”. p. 17. Taipa – “(...) transformar o flácido e merdoso barro de hoje, a terrosa taipa, no duríssimo bronze de amanhã requer moeda (...).” p. 17. [Tâmara] – Tâmaras “- Que pena – murmura Fátima – servindo-me um suco de tâmaras com hortelã. (...).” p. 18. Já nos excertos da obra Vida Dupla (ALSANEA, 2007) que constituem o corpus desta pesquisa encontraram-se os seguintes vocábulos árabes e arabismos portugueses: Abaya – Túnica feminina, longa e negra, usada em países árabes. “(...) desde a abaya até o véu sobre os cabelos (...).” p. 27, “(...) ficava uma gracinha com pregas e dobras da vasta abaya negra envelopando suas roupas (...)” p. 212; Abayas – “As demais usavam abayas bordadas.” p. 25, “Além das abayas, as garotas usavam lithaams de seda preta (...)” p. 25, “(...) balançando os ombros sob as abayas (...).” p. 25; Miniabaya –.”(...) cobrindo-se com uma miniabaya preta feminina (...).” p. 212. Açúcar – “(...) arrancara todo e qualquer pêlo (...) do corpo com uma pasta pegajosa de açúcar (...).” p. 25. Alcorão – “(...) nação regida única e exclusivamente pela lei derivada do Alcorão (...).” p. 204. Allah Akbar – s.m. Exclamação muçulmana. “(...) fazendo a invocação inicial do Allah Akbar, Deus é grande, (...).” p. 213. [Árabe] – Árabes – adj. “(...) como já acontecera com os convites para as premiações árabes.” p. 204. [Beduíno] – Beduínos – “(...) os antigos nomes beduínos (...).” p. 27. Bisht – Tradicional veste árabe masculina, popular em países do Golfo Pérsico e em outros países árabes, em geral usada em ocasiões especiais, como casamentos, festivais e na prece de sexta-feira. “(...) a única diferença do noivo para os convidados é a cor do manto comemorativo bisht.” p. 215. Enxoval – “(...) afora as muitas excursões ao shopping com Lamees para finalizar o enxoval.” p. 213. Eqal – Aro usado sobre o shimagh para evitar que este caia. “(...) levava na cabeça um pano, parecido com um grande lenço, shimagh, e um aro, eqal, com o qual o lenço ficava perfeitamente assentado.” p. 25. Garrafa – “(...) tomaram juntas uma garrafa inteira de champagne caro.” p. 28, “Afinal, o casamento de Gamrah merecia uma garrafa de Dom Perignon, não?” p. 28. Halawa – s.f. No texto, pasta a base de açúcar usada em processo depilatório. “(...) arrancara todo e qualquer pêlo (...) do corpo com uma pasta pegajosa de açúcar, a halawa (...).”p. 25. Hammam – s.m. Banho público árabe. “(...) chegou corada (...) porque acabara de fazer uma esfoliação no hammam marroquino (...).” p. 25. Hijazi – s.m. Nativo ou habitante da região ocidental da Arábia Saudita. “Como muitos homens e mulheres hijazi (...).” p. 28, “Como tem sorte a garota que agarra um hijazi!” p. 214, “Aliás, vocês repararam como são alinhados esses hijazi?” p. 215, “Todos os noivos hijazi que eu já vi usavam uma cavanhaque igualzinho, discreto.” p. 215; Hijazis – “Como muitos hizajis (...).” p. 212, “Interessante notar que os najdis têm uma prática exatamente oposta à dos hijazis.” p. 212. [Hookah] – Hookahs – Instrumento para fumar tabaco no qual a fumaça é resfriada e filtrada ao passar por água. “(...) uma lojinha que vendia narguilé, que também chamamos de shisha ou de hookahs e hubbly-hubbly.” p. 27. var. Shisha, hubbly-hubbly, narguilé. Isamah – “(...) às vezes aparecia em seu kandurah branco (...) e o seu turbante isamah.” p. 205. Isha – Uma das orações diárias do Islamismo. “(...) após a chamada para a prece Isha, que anunciava o cair da noite.” p. 26, “(...) precedidas pelas orações isha (...).” p. 213. Islâmico – “(...) não conseguiu acreditar que (...) considerasse a Arábia Saudita o único país islâmico do mundo!” p. 204, “(...) o simples fato de um país ser ‘muçulmano’ não significa necessariamente que ele seja um país ‘islâmico’.” p. 204; Islâmicos – “(...) os Emirados Árabes Unidos eram igualmente islâmicos (...).” p. 204; Islâmica – “(...) as bebidas alcoólicas são proibidas pela lei islâmica (...).” p. 28, “Outras nações muçulmanas podem buscar na shari’ah islâmica seus princípios e noções básicas (...).” p. 204. [Jarrinha] – Jarrinhas – “(...) as amigas enfileiraram as jarrinhas de cerâmica (...).” p. 24. Kandurah – s.m. Veste masculina tradicional nos Emirados Árabes Unidos, cuja cor varia conforme a estação: branca no verão, cinza ou marrom no inverno. “(...) às vezes aparecia em seu kandurah branco (...) e o seu turbante isamah.” p. 205. Kohl – Maquiagem para delinear olhos, kajal. “(...) a beleza dos olhos delineados com kohl (...).” p. 25. [Lithaam] – Lithaams – Peça do vestuário feminino árabe que cobre a parte inferior do rosto até os olhos. “(...) as garotas trajavam lithaams de seda preta que tudo cobriam, do nariz ao pescoço (...).” p. 25. Marroquino – “(...) chegou corada (...) porque acabara de fazer uma esfoliação no hammam marroquino (...).” p. 25. Mesquita – “(...) na enorme mesquita no centro da cidade.” p. 212, “Ela sempre levava Saleh à mesquita quando ia rezar (...).” p. 212, “(...) a fim de chegar a tempo para as preces (...) na mesquita (...).” p. 213. Midwakh – Pequeno cachimbo de origem árabe no qual se fuma tabaco iraniano, misturado com folhas, cascas de árvore e ervas. “(...) fumando seu cachimbo popular nos Emirados, midwakh (...).” p. 205. Milkali – s.m. Período entre a assinatura do contrato nupcial e a celebração do casamento. “(...) teve um curto noivado, mas um longo período entre a assinatura do contrato matrimonial e a festa em si. O primeiro durou três semanas, o segundo, o milkali, quatro meses.” p. 212. Muassel – Mistura de tabaco e xarope, geralmente de mel ou melaço, para ser fumada no hookah. “(...) o pai de Lamees era viciado em shisha e muassel.” p. 28, “Até Gamrah experimentou o muassel, considerado impróprio entre as mulheres najdi (...).” p. 28. Muçulmano – “(...) o simples fato de um país ser ‘muçulmano’ não significa necessariamente que ele seja um país ‘islâmico’.” p. 204; Muçulmanas – “Outras nações muçulmanas podem buscar na Shari’ah islâmica seus princípios e noções básicas (...).” p. 204. Najdi – Nativo ou habitante da região central da Arábia Saudita. “(...) nenhum rapaz hoje em dia se chamava Obaid ou Duyahhim, os antigos nomes beduínos najdi.” p. 27, “Até Gamrah experimentou o muassel, considerado impróprio entre as mulheres najdi (...).” p. 28, “Juro por Deus que um najdi é capaz de matá-la se ela pedir (...).” p. 214; Najdis – “Interessante notar que os najdis têm uma prática exatamente oposta à dos hijazis.” p. 212. Narguilé – Cachimbo de água. “(...) uma lojinha que vendia narguilé, que também chamamos de shisha ou de hookahs e hubbly-hubbly.” p. 27. var. shisha, hookahs, hubbly-hubbly. Qiyam – Oração noturna. “(...) a fim de chegar a tempo para as preces no terço final da noite, as opcionais Qiyam (...).” p. 213. Ramadã – s.m. Nono mês do calendário islâmico, no qual se pratica o jejum ritual. “(…) no quinto dia do mês de Shawwal, o seguinte ao Ramadã (...).”p. 212, “Durante todo o Ramadã, os preparativos andaram a pleno vapor (...).” p. 212, “(...) após fazer suas preces noturnas do Ramadã (...).” p. 212, “Raramente os shoppings abriam de dia durante o Ramadã, mas funcionavam à noite, até três ou quatro da madrugada, o mês inteiro.” p. 212, “(...) embora nos últimos dez dias do Ramadã essa volta fosse antecipada em uma ou duas horas (...).” p. 213. [Rial] – Riales – Moeda da Arábia Saudita. “(...) ao pequeno shillah patrocinador da festa caberiam as despesas, que não ficariam por menos de alguns milhares de riales.” p. 25, “O rapaz perguntou se ela o deixaria entrar com o grupo na condição de parente, e ofereceu, em troca do privilégio, mil riales (pouco mais de 250 dólares).” p. 26, “(...) ele deu a ela duas notas de quinhentos riales (...).” p. 27. Saudita – “(...) escurecer os vidros do carro seria proibido pela lei saudita mais tarde.” p. 26 Shari’ah – Código de leis do Islamismo. “A Arábia Saudita é a única nação regida (...) pela lei derivada do Alcorão e pelos ensinamentos do Profeta (...) quanto à aplicação dessa lei – a Shari’ah – a todos os aspectos da vida.” p. 204, “Outras nações muçulmanas podem buscar na Shari’ah islâmica seus princípios e noções básicas (...).”p. 204. Shawwal – Décimo mês do calendário muçulmano em cujo 1º dia se comemora o Eid ul-Fitr (fim do Ramadã). “(…) no quinto dia do mês de Shawwal, o seguinte ao Ramadã (...).” p. 212. Shillah – No texto, grupo de amigos. “Bem antes do casamento, a panelinha – o shillah – havia feito preparativos especiais para a própria pré-comemoração íntima.” p. 24, “E, claro, ao pequeno shillah patrocinador da festa caberiam as despesas (...).” p. 25. Shimagh – s.m. peça do vestuário masculino árabe para cobrir a cabeça, fabricado em cores e padrões variados. Os sauditas geralmente usam o padrão vermelho e branco, o resto do mundo árabe usa preto e branco. “(...) levava na cabeça um pano, parecido com um grande lenço, shimagh, e um aro, eqal, com o qual o lenço ficava perfeitamente assentado.” p. 25, “Hoje em dia, shimagh e thobe são feitos por grifes famosas (...).” p. 25, “(…) e a cabeça coberta por um shimagh tradicional.” p. 212. Shisha – s.f. cachimbo no qual o fumo passa por água. “(...) uma lojinha que vendia narguilé, que também chamamos de shisha ou de hookahs e hubbly-hubbly.” p. 27, “(...) o pai de Lamees era viçado em shisha e muassel.” p. 28; Shishas – “(...) compraram um número de shishas suficiente para que não precisassem dividi-las e cada uma escolheu o sabor de tabaco que mais lhe agradou para o cachimbo, misturando-o com melaço e essências aromáticas.” p. 27, “(...) se reuniam duas ou três noites por semana para fumar suas shishas (...).” p. 28, “Só que as shishas do pai o acompanhavam aonde quer que ele fosse.” p. 28, “Por isso, as garotas prepararam as shishas recém-compradas no interior da tenda e a empregada ativou o carvão.” p. 28 var. hookahs, hubbly-hubbly, narguilé. Tabaco – “(...) e cada uma escolheu o sabor de tabaco que mais lhe agradou para o cachimbo (...).” p. 27, “De todos, o tabaco com sabor de uva foi o que mais lhe agradou.” p. 28. Taggaga – s.f. cantora a pagamento. “(...) talvez implicasse na contratação de uma taggaga, uma cantora profissional, do tipo que no passado se apresentava acompanhada de um tambor, mas que agora trazia uma banda.” p. 24. Tambor – “(...) se apresentava acompanhada de um tambor (...).” p. 25. Tarawih – Literalmente ‘oração do descanso’, praticada no mês do Ramadã. “As preces Tarawih em Riad, opcionais e precedidas pelas orações Isha, costumam terminar entre oito e nove horas da noite (...).” p. 213. [Tarefa] – Tarefas – “Sadeem assumiu algumas tarefas leves (...).” p. 212, “Assim, Gamrah foi liberada para cuidar de suas tarefas (...).” p. 214. Thobe – s.m. Túnica, geralmente longa e com mangas compridas, similar ao robe. “(...) vestia uma espécie de sobretudo, o thobe, cortado ao estilo masculino (...).” p. 25, “Hoje em dia, shimagh e thobe são feitos por grifes famosas, como Gucci, Christian Dior, Givenchy e Valentino.”, p. 25, “(...) aparecia em seu kandurah branco, o equivalente nos Emirados Árabes ao thobe saudita (...).” p. 205. Turbante – “Jóias das famílias de turbante e ouro!” p. 28, “(...) às vezes aparecia em seu kandurah branco (...) e o seu turbante isamah.”p. 205. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando-se a hipótese investigada, que correlaciona contextos distintos de contato (Idade Média Ibérica e contemporaneidade) à função dos empréstimos e estrangeirismos árabes na língua portuguesa, concluiu-se que os arabismos registrados na obra Al-Gharb são de antiga integração, encontrando-se, por isso, bem adaptados ao sistema lingüístico português (no que concerne à fonologia e à morfologia), de onde muitas vezes a inconsciência do falante quanto à sua origem. Resultam de contato antigo, direto e duradouro, daí os empréstimos excederem em número os estrangeirismos, bem como os superam na quantidade de campos semânticos que integram, concernentes a aspectos diversos da vida cotidiana. Os estrangeirismos, como previsto, referem-se apenas a particularidades político-culturais e religiosas do mundo árabe-muçulmano. Na obra Vida Dupla, os empréstimos têm as mesmas características daqueles verificados em Al-Gharb, e também se encontram em 11 campos semânticos. Ocorrem em Vida Dupla por integrarem a língua comum ou para designarem aspectos do mundo islâmico de longa data conhecidos por lusofalantes. Os estrangeirismos, entretanto, superam-nos numericamente e integram quase o dobro de campos semânticos (09), comparados aos registrados em Al-Gharb (05). Decorrem de contato mais recente, propiciado pelas novas tecnologias da comunicação, um contato, portanto, indireto, de que resultam empréstimos culturais. Com efeito, designam exclusivamente especificidades da cultura médio-oriental reportadas na obra. Concluiu-se, assim, pela corroboração da hipótese testada, evidenciando-se, ainda, haver camadas superpostas de arabismos na língua portuguesa, as quais, em sucessivos contextos sócio-históricos de contato luso-árabe, enriquecem continuamente o seu léxico.

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Apresentação

Este blog foi criado para compartilhar informações acerca das conseqüências do contato entre as línguas árabe e portuguesa verificado em 03 contextos específicos: a Península Ibérica medieval, o Brasil escravagista e o Brasil da imigração.
A este tema se dedica a autora deste 1992, quando se apaixonou pelo assunto ao preparar o trabalho de conclusão da disciplina Filologia Românica II (sobre o domínio lingüístico ibérico) na graduação em Letras na Universidade Federal da Bahia.
O referido trabalho, sobre o vocábulo azulejo, descortinou um mundo aparentemente perdido, europeu e medieval, mas que, em verdade, continua vivo no Português Brasileiro, nos arabismos transplantados com o Português Europeu, aos quais se juntaram outros, adquiridos já na Terra Brasilis, por meio de escravos islamizados e de imigrantes arabófonos que ainda hoje chegam ao nosso país.
Os arabismos do Português Brasileiro requerem investigação pautada na etnolingüística e na sociolingüística do contato intercomunitário, complementando o que a literatura especializada já documenta, mas que se restringe aos arabismos ibéricos, mencionando, quando muito, o influxo lexical da migração sírio-libanesa no Brasil.